Artur Monteiro e colaboradores.
Resumo
A proposta do presente estudo foi avaliar as respostas cardiorrespiratórias e metabólicas no treinamento em circuito utilizando exercícios resistidos com pesos livres direcionados ao envolvimento de grande quantidade de massa muscular. A amostra foi composta por 8 homens e 8 mulheres moderadamente treinados com idades entre 18 e 35 anos. Como variáveis dependentes para análise fisiológica da sessão de treino foram avaliados o consumo de oxigênio (VO2), a frequência cardíaca e o quociente respiratório. Foram calculados a média e desvio padrão para cada variável, e utilizado o Teste t de Student. Foram encontradas diferenças significantes entre os gêneros no VO2absoluto com 1,39 ± 0,16 e 0,89 ±0,08 l/min, no VO2relativo com 19,72 ±1,66 e 16,13 ± 1,65 ml/Kg/min e no gasto calórico com 6,97 ± 0,79 e 4,45 ± 0,43 Kcal/min para homens e mulheres respectivamente. Estes resultados mostram que a metodologia utilizada na elaboração da sessão de treino neste estudo foi eficiente para aproximar a intensidade de esforço das investigações que utilizaram máquinas que favoreceram maior magnitude de peso. Conclui-se que a seleção de exercícios é uma variável importante na organização da sessão no treinamento em circuito para melhoria da aptidão cardiorrespiratória.
Introdução
O treinamento em circuito foi estudado por vários autores para avaliar seus efeitos sobre consumo máximo de oxigênio (VO2max), força, resistência muscular e alterações na composição corporal. Segundo Gettman et al (1978), Wilmore et al (1978) o treinamento em circuito mostrou-se eficiente para melhoria da resistência cardiorrespiratória.
Outros autores avaliaram as respostas fisiológicas agudas durante uma sessão de treinamento em circuito (Wilmore et al, 1978; Burleson et al, 1998 e Halton et al 1999). Wilmore et al (1978) e Beckham & Earnest (2000) avaliando o treinamento em circuito encontraram valores altos no %FCmax em relação ao %VO2max. Beckham & Earnest (2000) compararam ainda a relação VO2/FC encontrada em seu estudo com a recomendação proposta pelo ACSM (2000), onde os resultados mostraram valores significativamente inferiores para o VO2 no treinamento em circuito. Com estes resultados questiona-se o treinamento em circuito utilizando exercícios resistidos devido a um impacto menor sobre o sistema cardiorrespiratório quando comparado às atividades cíclicas. Burleson et al (1998) compararam as respostas fisiológicas do treinamento em circuito com a corrida em esteira. Os resultados mostraram que para o mesmo VO2 na corrida em esteira e no treinamento em circuito, o valor da FC foi mais alto na segunda forma de exercício.
O VO2 e a demanda energética são proporcionais a magnitude do peso a ser vencido (Phillips e Ziurai, 2003) e a quantidade de massa muscular envolvida durante o exercício (Roberts e Robergs, 2002). Portando a seleção de exercícios que envolvam maior quantidade de massa muscular poderia aumentar a intensidade de esforço. A proposta do presente estudo foi avaliar as respostas fisiológicas no treinamento em circuito utilizando exercícios resistidos com pesos livres direcionados ao envolvimento de grande quantidade de massa muscular.
Metodologia
A amostra foi composta por 8 homens e 8 mulheres moderadamente treinados com idades entre 18 e 35 anos. Todos indivíduos referiram ser saudáveis e fisicamente ativos realizando programas de treinamento com exercícios resistidos com mínimo de 6 meses de aderência, com uma frequência semanal mínima de 3 vezes. Durante a sessão de treino os indivíduos permaneceram 1 minuto em cada exercício resistido direcionados para os grandes grupamentos musculares com 15 segundos de pausa. A peso foi fixado em 2 e 4 Kg nas mulheres e 4 e 6 Kg nos homens para membros superiores e inferiores respectivamente. A velocidade de execução foi imposta através de um CD musical com um andamento de 140bpm. Para avaliar as respostas cardiorrespiratórias e metabólicas durante a fase principal da sessão serão mensurados como variáveis dependentes a FC, o VO2, o gasto energético e o quociente respiratório (QR). Os dados da freqüência cardíaca e VO2 serão mensurados utilizando-se monitores de freqüência cardíaca da marca Polar, modelo S610 e um analisador de gases Aerosport/Medical Graphics – VO2000 - EUA; as mensurações serão realizadas a cada 30 segundos. Foram calculados a média e desvio padrão para cada variável, e utilizado o Teste t de Student.
Resultados
Os resultados são apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Valores médios e desvio padrão das variáveis cardiorrespiratórias e metabólicas durante um treinamento em circuito.
Mulheres | Homens | |
VO2 (l/min) | 0,89 ± 0,08 | 1,39 ± 0,16* |
VO2 (ml/Kg/min) | 16,13 ± 1,65 | 19,72 ±1,66* |
% VO2max | 45,28 ± 3,21 | 44,86 ± 2,37 |
FCtrab (bpm) | 148 ± 17,43 | 153 ± 12,45 |
% FCmax | 80,05 ± 5,69 | 80,04 ± 6,09 |
Gasto Calórico (Kcal/min) | 4,45 ± 0,43 | 6,97 ± 0,79* |
QR | 1,10 ± 0,09 | 1,12 ± 0,13 |
* diferença significante entre os gêneros para p<0,01
Discussão
Os valores do VO2 do presente estudo são superiores aos encontrados por Beckham e Earnest(2000) que avaliaram sessões de treinamento em circuito com duração de 14 minutos alternando exercícios com pesos livres entre a parte superior e inferior. A sessão utilizou uma magnitude de peso de 5,9 Kg para mulheres e 10,5 Kg para homens. Os resultados apresentaram um VO2absoluto de 1,2 e 0,8 l/min e um VO2relativo de 15,7 e 12,9 ml/Kg/min para homens e mulheres respectivamente. Wilmore et al19 encontraram 20,6 ml/kg/min para os homens e 17,4 ml/Kg/min para as mulheres. Em seu estudo a sessão composta por 10 exercícios realizados em aparelhos, com 15 repetições (40%1RM) com 15 segundos de intervalo. O presente estudo utilizou magnitudes de peso de 2 e 4 Kg para mulheres, 4 e 6 Kg para homens, para membros superiores e inferiores, respectivamente. A magnitide do peso utilizada por Beckham e Earnest(2000) representou nos membros superiores 17,5 e 18,2%1RM e nos membros inferiores 4,1 e 3,5%1RM para mulheres e homens respectivamente. As máquinas de musculação favorecem o aumento da intensidade de esforço devido à facilidade no aumento na magnitude do peso. Quando comparado ao estudo de Beckham e Earnest (2000) , onde o mesmo também utilizou pesos livres, porém com exercícios direcionados para grupamentos musculares específicos, o presente estudo apresentou um VO2 superior mesmo utilizando menores magnitudes de peso. O VO2relativo do presente estudo quando comparado ao de Wilmore et al (1978), apresentou valores superiores para as mulheres e próximos para os homens. Estes resultados mostram a importância da seleção de exercícios para a elaboração da sessão do treinamento em circuito como ajuste da intensidade de esforço para a melhoria da aptidão cardiorrespiratória.
O ACSM (2000) recomenda 50-85%VO2max, que representa 60-90%FCmax como intensidades ideais para promover melhoras na aptidão cardiorrespiratória durante a realização de exercícios aeróbios com características cíclicas como a corrida e o cicloergômetro. O valor médio da frequência cardíaca no presente estudo foi 153 bpm para homens e 148 bpm para mulheres. O VO2 e a frequência cardíaca representaram 45%VO2max e 80%FCmax, tanto para homens como para mulheres. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado por Wilmore et al (1978), apresentando uma frequência cardíaca acima de 70%FCmax e um consumo de oxigênio abaixo de 45%VO2max. Gotshalk et al9 encontraram 39 a 53%VO2max e 71 a 87%FCmax. Beckham e Earnest3 encontraram 30%VO2max e uma frequência cardíaca média de 129bpm representando 65%FCmax para homens; 32%VO2max e 119bpm representando 62%FCmax para mulheres.
O gasto calórico no presente estudo mostrou-se maior para homens comparado às mulheres, 6,97 e 4,45 Kcal/min respectivamente. Alguns estudos os quais avaliaram o gasto calórico no treinamento em circuito obtiveram resultados semelhantes. Para Beckham e Earnest (2000) o gasto calórico também foi significantemente maior para homens (4,99 Kcal/min) quando comparado às mulheres (3,62 Kcal/min). No estudo realizado por Wilmore et al (1978) os resultados encontrados foram superiores ao presente estudo, com gasto calórico de 9,0 Kcal/min e 6,1 para homens e mulheres respectivamente. Segundo Wilmore et al (1978) as diferenças no gasto calórico entre os gêneros estão diretamente relacionadas às diferenças na composição corporal, especificamente à menor quantidade de massa muscular e maior quantidade de massa adiposa em mulheres. Porém diferença no gasto calórico entre os estudos pode estar relacionada com a intensidade de esforço utillizada na sessão de treino, a qual depende do intervalo entre os exercícios12 e da magnitude do peso a ser levantado (Gettman et al 1978). Durante o treinamento em circuito, os valores médios do QR encontrados foram de 1,12 e 1,10 para homens e mulheres respectivamente, não apresentando diferença significativa entre os gêneros. No treinamento em circuito, Burleson et al (1998) encontraram um QR de 1,16 enquanto, Beckham e Earnest (2000) mostraram em seu estudo 0,95 e 1,01 para mulheres e homens respectivamente. Estes resultados indicam que o treinamento em circuito utiliza o carboidrato como substrato energético principal durante o exercício.
Conclusão:
Estes resultados mostram que a metodologia utilizada na elaboração da sessão de treino neste estudo foi eficiente para aproximar a intensidade de esforço das investigações que utilizaram máquinas que favoreceram maior magnitude de peso. Conclui-se que a seleção de exercícios pode ser uma variável importante na organização da sessão no treinamento em circuito para melhoria da aptidão cardiorrespiratória.
Referências Bibliográficas
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BECKHAM, S. G. & EARNEST, C. P. Metabolic cost of free weight circuit weight training. The Journal of Sports Medicine and Physical Fitness. 40: 118-25, 2000.
BURLESON, M.A.; O’BRAYANT, H.S.; STONE,M.H.;COLLINS, M.A. & McBRIDE, T.T. Effect of weight training exercise and treadmill exercise on post-exercise oxygen consumption. Medicine and Science in Sport and Exercise. 30(4): 518-22, 1998.
CULLINEN, K. & CALDWELL, M. Weight training increases fat-free mass and strength in untrained young women. Journal of the American Dietetic Association. 98 (4): 414-417, 1998.
GETTMAN, LARRY R., JOHN J. AYRES, MICHEL L., POLLOCK, M.L. & JACKSON, A. The effect of circuit weight training on strength cardiorespiratory funetton, and body composition of adult men.Medicine and Science in Sport and Exercise. 10(3): 171-176, 1978.
HALTON, R.W.; KRAEMER, R.R.; SLOAN, R.A.; HEBERT, E.P.; FRANK, K. & TRYNIECKI, J.L. Circuit weight training and its effects on excess postexercise oxygen consumption. Medicine and Science in Sports and Exercise. 31(11): 1613-1618, 1999.
PHILLIPS, W.T. & ZIURAITIS, J.R. Energy cost of the ACSM single-set resistance training protocol. Journal of Strength and Conditioning Research. 17(2): 350-355, 2003.
ROBERGS R. e ROBERTS S. Princípios Fundamentais de Fisiologia do Exercício para aptidão, desempenho e saúde. São Paulo. Phorte Editora, 2002.
WILMORE, J.H.; PARR, R.B.; WARD, P.; VODAK, P.; BARSTOW, T.J.; PIPES, T.V.; GRIMDITCH, G. & LESLIE, P. Energy cost circuit weight training. Medicine and Science in Sport and Exercise, 10(2): 75-78, 1978.
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